sexta-feira, 12 de junho de 2020

Filhos da Guerra (Europa Europa) 1990 - Dir. Agnieszka Holland


Baseados em fatos, o filme narra a luta por sobrevivência de Solomon Perel, um jovem judeu alemão que consegue escapar à perseguição nazista, escondendo sua identidade judaica, e, paradoxalmente, encontrando refúgio junto à Juventude Hitlerista.


SOBRE O FILME E CONTEXTO HISTÓRICO
(sem spoiler...)


A Segunda Guerra Mundial e consecutivamente o holocausto já foram temas de muitos filmes de guerra. O fato histórico se tornou argumentação de diversas narrativas para inúmeros meios de expressão: filmes, séries, jogos, livros e até HQs. Com tanto conteúdo sobre o tema, de certa forma, nos tornamos “familiarizados” com os acontecimentos que envolvem a Segunda Guerra. Mas será mesmo? Será que realmente temos a noção do horror e medo que envolvem uma guerra? Será que de fato sabemos como nosso instinto de sobrevivência responderá à ameaça de morte eminente? E o mais importante. Conseguimos definir como, moral ou imoral, os meios pelos quais alguém conseguiu conquistar a sua própria sobrevivência?

Filhos da Guerra (Europa, Europa) o 15º filme da diretora polonesa Agnieszka Holland tenta nos responder essas perguntas e muitas outras. O filme é baseado na autobiografia  Solomon Perel, filho de judeu, nascido na Alemanha. Porém não espere um filme típico “A Lista de Schindler”. A obra cinematográfica tem a sua carga dramática, porem com uma dosagem cautelosa, suficiente para que a emoção não sobreponha a razão dos contextos que iremos presenciar. 

Em alguns aspectos a obra nos lembra o filme “Jojo Rabbit (2019)” do diretor Taika Waititi, pois se utiliza de alívios cômicos, muito bem dosados, para quebrar a tensão e nos apresentar a ignorância da ideologia nazista. Como por exemplo, o modo como os judeus são retratados pelos os nazistas. Seres bestiais e com proporções físicas assimétricas, longe do padrão ariano. E para provar sua teoria, um oficial de alta patente utiliza o nosso protagonista como padrão estético de medidas de um verdadeiro ariano. Não há como não rir e ficar angustiado ao mesmo tempo, pois ao contrário do filme de Taika Waititi, a obra não é humorística. Agnieszka Holland é dotada de uma habilidade pouco vista entre os diretores, saber COMO e QUANDO dosar, drama e humor, sem pareça boçal ou estrague o clima. Diria que é um filme dramático com pitadas de humor negro.


A história de Solomon Perel é ambienta entre os anos de 1938 e 1945. Tendo início na circuncisão do protagonista até os dias finais da segunda guerra. A diretora nos leva a uma jornada trágica, porém irônica em alguns momentos, pois ela não nos permite ficar demasiadamente sensíveis. Não há tempo para julgar ou sentir. O objetivo é sempre seguir adiante, sem nunca parar. A história de Salomon é frenética como uma epopeia de feitos gregos. Com heroísmo ou não, sabemos que o grande prêmio é a sobrevivência. O medo de morrer, o conflito com sua identidade e o jogo de interpretação diante dos nazistas é o que nos faz ficar presos na cadeira, aguardando ansiosamente pelo desfecho.

Como em todo regime fascista e autoritário. Nenhum líder se expressa com todos as palavras, expondo as verdades ocultas de suas reais intenções na primeira aparição. Do Hitler eleito, comunicativo que falava com as massas sobre a volta de uma Alemanha economicamente saudável, a retomada dos valores da família e da pátria em 1933 até o Hitler genocida de 1940. Foram necessários aproximadamente 6 anos para transformação da mentalidade do povo alemão. Todo regime fascista precisa de um inimigo em voga que seja “responsável” pelo fracasso presente da nação. Porém o mais importante é que esse inimigo soe tão animalesco e vil que justifique qualquer ato, lícito ou ilícito, do presente líder para exercer o seu poder e vontade sobre o Estado. Soa familiar?

A jornada de Solomon Perel por sobrevivência se inicia no meio dessa transformação social. O ano em questão é 1938. Bar-Mitzva de Solomon. O Bar-Mitzva é uma festa que comemora a maturidade na religião judaica. No caso de Solomon, esse dia único de sua vida ficou eternamente registrado na história como Noite dos Cristais ou Noite de Cristal do Reich. Uma manifestação levada a cabo pelas forças paramilitares das Tropas de Assalto do regime nazista (Sturmabteilung) e por civis alemães entre os dias 9 e 10 de novembro contra qualquer presença judaica em terreno alemão.

Foto real da Noite dos Cristais - 1938
noite dos cristais (imagens reais) 1938

A Noite dos Cristais culminou em muita destruição, feridos e judeus assassinados. Dos irmãos de Solomon, Bertha foi uma dessas vítimas. A partir desse acontecimento a família decide mudar-se para Lodz na Polônia com medo do ódio e movimentos antissemitas que cresciam dia após dia. Quando os nazistas invadem a Polônia e firmam o pacto de não agressão com a União Soviética, a família decide que Salomon e seu irmão Izaak precisam fugir rumo ao leste. 

Em fuga o protagonista acaba se separando do seu irmão e é resgatado pelo Exército Bolchevique e sendo levado para um orfanato para se tornar exímio comunista. Para contextualizar, o Exército Bolchevique também conhecido Exército Vermelho ou Exército Vermelho dos Operários e dos Camponeses foi um exército da falecida URSS, criado por Leon Trotsky dos Bolcheviques em 1918. O objetivo era defender o país durante a Guerra Civil Russa, porém foi aliado em diversos conflitos, sendo substituído pelo Exército Russo em 1991. O Exército Bolchevique era tão poderoso e estrategicamente organizado que foi o primeiro exército a conseguir entrar em Moscou na II Guerra Mundial, além do responsável pela Batalha de Stalingrado.


Voltando ao filme. Aos cuidados dos soviéticos, Solomon Perel é levado para Konsomo, uma espécie de escola especial para formar jovens líderes do partido comunista. Observem. Essa é uma das partes mais engraçadas do filme. Pois percebo que Solomon é um judeu não-praticante, assim como sou cristão pela conivência cultural dos meus pais e localização geográfica do hospital aonde nasci. Com o protagonista é quase a mesma coisa, ser judeu é apenas uma identidade nacional, não há um vínculo de vida ou morte com a religião judaica em seu íntimo. Ele respeita os ensinamentos de seus pais e até os pratica. Porém não daria sua vida para a religião. E foi com essa premissa que Solomon vislumbrou tranquilidade e sobrevivência junto a juventude soviética comunista. 

Atento as regras do jogo, abraçou a sua oportunidade de sobrevivência. Tratou de negar a deus e idolatrar Stálin. No entanto quando tudo parece tranquilo a Alemanha nazista invade a União Soviética e Salomon e seu grupo são capturados. O protagonista se safa pela sua astúcia comunicativa e a eximia habilidade de falar o alemão sem sotaques. Encorajando os nazistas a acreditarem que ele também é um legítimo ariano. Dessa forma ele acaba sendo incorporado ao exército de Hitler como tradutor de alemão e russo nas comunicações de guerra.



Sem spoiler, isso é tudo o que você precisa saber sobre o filme. Pois acreditem, toda essa minha narrativa ocorreu nos primeiros minutos. O que se segue é uma luta frenética do protagonista para preservar sua identidade e lutar com a sua estabilidade emocional. É incrível imaginar que realmente aconteceu uma história tão fantástica e com uma trajetória que abalaria as estruturas emocionais de qualquer um de nós. 

Sem entregar o desfecho. No final do filme, juntos aos créditos, surge o verdadeiro Solomon Perel olhando para o horizonte. Observando o pôr do sol, esse símbolo místico da presença de deus em muitas culturas. A sensação que tenho diante dessa cena foi a contemplação da ironia da própria existência. Qual o sentido da vida, tendo a consciência de tudo o que viveu, vislumbrou e participou até aquele dado momento? Pois todos os que conheceu e seus familiares estão mortos. O passado para as pessoas a sua volta não tem o mesmo significado como para si mesmo. Qual a mensagem da vida nesse contexto? Será uma ironia do destino ou uma piada divina? Acho que essas perguntas só Solomon pode responder a si mesmo.

 Particularmente nunca acreditei em um significado místico ou mágico para a vida. E jamais julguei que a minha vida tenha um motivo especial e transformador diante das demais. Sempre julguei que o sentido da vida é viver. E a única diferença cultivamos são para aqueles que nos cercam por um breve momento em nossa existência. Afinal, após a morte, os anos apagam da memória a nossa imagem na mente dos vivos e os séculos negam a nossa existência em um lugar que não mais nos pertence. Por isso, dentro de nossas possibilidades, façamos o melhor que podemos fazer com a nossa vida hoje. Vivemos, amamos, aprendemos, transamos e dizemos o quanto alguém é importante. Pois metade da vida passamos lidando com nossos conflitos sociais e individuais e a outra metade (se restar mágoas) passamos lamentando o tempo perdido. O único sentido da vida é viver. E tudo aquilo que deseja fazer com a própria vida. Acima de tudo, Solomon Perel  nos ajuda a entender essa viagem filosófica e irônica sobre o significado da vida.

 

Bom Filme!

 

FICHA TÉCNICA

DIREÇÃO: Agnieszka Holland

GÊNERO: Drama | Guerra | História

ORIGEM: França

IDIOMA: Francês, Alemão, Russo

MINHA NOTA: 9.0

TRAILER [AQUI]

 

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Resolução: 730 dpi

Formato: AVI

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Resolução: 730 dpi

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Tamanho: 896 MB

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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Lovecraft: Fear of the Unknown (2008) Dir. Frank H. Woodward




É incrível imaginar como um homem em sua solitude criou uma mitologia de seres jamais imagináveis. O documentário “Lovecraft: Fear of the Unknown” retrata a vida e o método de criação de um dos maiores escritores da literatura fantástica e do horror dos últimos tempos: H.P Lovecraft. Documentário conta com depoimentos de grandes figuras como Guillermo Del Toro, Neil Gaiman dentre outros.

H.P LOVECRAFT

O escritor quando era vivo sempre questionou o valor da sua obra. Porém mal sabia Lovecraft que a fama chegaria  apenas após a sua morte. Sua morte devido a complicações estomacais ocorreu em 1937, quando contava com apenas 46 primaveras. Porém seu legado dantesco com seres indizíveis e universos paralelos revolucionou a literatura fantástica, levando o gênero do horror a um novo patamar. Mesmo após 76 anos de sua morte suas obras continuam atuais, inspirando e criando vida por si só. De Alan Moore ao Neil Gaiman, de Stephen King ao China Miéville, vários escritores, mesmo pelas bordas, foram influenciados pela atmosfera lovecraftiana.

O alcance do autor não ficou restrito apenas nas páginas dos livros. Suas obras se tornaram vivas em outros gêneros de expressão como HQs e bandas consagradas como Metallica, o Iron Maiden e o Cradle of Filth. Há também os cineastas, seu principal seguidor Stuart Gordon, seguido de Sam Raimi que beberam da fonte para criar os clássicos Re-Animator e Evil Dead.

Porém um dos melhores filmes inspirados na obra de Lovecraft, o mais fiel ao seu estilo literário, indubitavelmente nomeio o soturno "La Herencia Valdemar (A Herança Valdemar)" do diretor José Luis Alemán, já apresentado aqui no Imemorável. [veja AQUI]

No entanto não podemos comparar os filmes a um décimo da atmosfera contida em suas obra. Caso você nunca tenha lido Lovecraft, leia e sinta a loucura transitar em suas reflexões. Seus escritos caminham por veredas que fogem a razão, tecendo argumentações sobre as ciências ocultas, astronomia, mitologia, ciências biológicas e história antiga. A cada narrativa, sempre em primeira pessoal, é impossível concluir a leitura sem ao menos cogitar: “Como isso pode ocorrer? Não pode ser mentira uma narrativa desta natureza!”

A NATUREZA DOS CONTOS

Meu primeiro contato com Lovecraft foi o conto “A Coisa na soleira da porta”. Manifestava-se diante de meus olhos um universo completamente inexistente que, pouco a pouco, tomava formas e contrastes em uma escrita completamente única. Lovecraft não apenas lhe narra a estória, mas o coloca como cúmplice dos conhecimentos desvelados. Não tive me contive, aprofundei-me ainda mais em suas obras lendo contos como “A Cor que veio do espaço”, “A Maldição de Sanarth”, “Azathot”, “Ex Oblivione”, “O Horror de Dunwich”, “Os Gatos de Ulthar”, “Os fungos de Yuggoth” e o fantástico “O chamado de Cthulhu” percebi que seus contos não se travam de medos cristãos, fantasmas, casa assombradas e coisas do tipo. Seus contos tratam de mistérios além dos tempos memoráveis, sabedoria arcana, seres inimagináveis, cultos pagãos, criaturas adormecidas no leito do tempo, fatos ocultos que ao serem desvelados podem levar a mente humana a loucura. O maior medo do Homem vem do desconhecido que se oculta em si mesmo e se revela através do conhecimento absoluto.

GUILLERMO DEL TORO

Por várias vezes me questionei: “Como um homem sozinho em seu quarto consegue escrever tais coisas?” No fantástico conto “A Música de Erich Zann” é possível ouvir as notas musicas que evocam dimensões ocultas. Em “O chamado de Cthulhu” é impossível não sentir o ar pesado que emana a criatura.

É impossível não ler Lovecraft, conhecer a sua mitologia, suas criaturas oriundas de esferas distantes, de Cthulhu, Azathoth, Shub-Niggurath (meu preferido), Yog-Sothoth a Nyarlathotep e não acreditar que esses seres realmente existem ou existiram. H.P Lovecraft é literalmente o Tolkien da Literatura Fantástica. Apesar de fictício suas criaturas e “evocações” tecem uma semelhança indescritível as práticas da Qabalah, somadas a astrologia e necromancia. Tais detalhes são tão bem arquitetados que fez com que certos grupos realmente acreditassem na existência da religião pagan que adorna os filhos de Lovecraft.

NEIL GAIMAN
Porém o maior feito de todos foi à criação do livro imaginário, a qual, muitos ainda procuram encontrá-lo para adquirir seu conhecimento arcano, o tal “Necronomicon: O livro proibido dos mortos”. A lenda criada por Lovecraft relata que o livro é confeccionado com de pele humana e contém evocações de seres antigos. O livro e sua fantasiosa cosmologia foram criadas para entreter seu grupo de amigos escritores. Lovecraft muitas vezes incentivava que seus amigos acrescentassem algoa idéia, tornado a fábula ainda mais real. As superstições em torno do Necronomicon tomou proporções tão gigantescas que vários charlatões começaram a vender o suposto livro no mercado negro. Porém o ápice foi quando surgiu o boato que  Lovecraft havia roubado o livro de Aleister Crowley para criar todas os seus seres mitológicos. Atualmente é possível encontrar várias versões do Necronomicon. Eu tenho a minha preferida “Necronomicon” de Donald Tyson. Com o surgimento da internet é possível encontrar um número incontáveis de "Necronomicon's", tão fácil quando encontrar pedaços do sudário ou a cruz de Jesus Cristo para comprar. 


O DOCUMENTÁRIO
Com comentário de figuras sagradas da 7ª arte e literatura


O documentário além de ser muito interessante e ágil, retratando a vida, medos e o processo de criação do escritor, ainda conta com o depoimento de várias figuras emblemáticas. Estamos falando de nomes consagrados como Guillermo Del Toro, Neil Gaiman, John Carpenter, Peter Straub, Caitlin R. Kiernan, Ramsey Campbell, Stuart Gordon, S.T. Joshi, Robert M. Price, e Andrew Migliore todos artistas que se inspiraram na literatura criada por Lovecraft em algum momento de suas próprias carreiras. 

O documentário foi lançado apenas no Estado Unidos. Levei cerca de quase dois anos para traduzir e legendar. Espero que apreciem e, sobretudo, comentem. Também deixarei disponível uma coletânea de contos para download, inclusive os mencionados no artigo.

Coletânea de contos H.P Lovecraft 

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FICHA TÉCNICA

Direção: Frank H. Woodward
Gênero: Documentário
Origem:EUA
Ano: 2008
Minha nota: 10,0
Trailer:  Assista

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ARQUIVOS DIGITAIS ATUALIZADOS EM 31/12/2019

DOWNLOAD DIRETO 1080DPI

Resolução: 1080 dpi
Formato: MP4
Tamanho: 1.69 GB
Fonte: mega.nz
Compactação: Sim/ Winrar
Arquivo de vídeo + legenda PT-BR
Nome do arquivo: Lovecraft Fear of The Unknown [1080dpi].rar

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Resolução: 780 dpi
Formato: AVI
Tamanho: 1.69 GB
Fonte: mega.nz
Compactação: Sim/ Winrar
Arquivo de vídeo + legenda PT-BR
Nome do arquivo: Lovecraft Fear of The Unknown [780dpi].rar

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TORRENT + LEGENDA PT-BR
Resolução: 1080 dpi

Formado: MP4
Fonte: mega.nz

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TORRENT MAGNETIC LINK
Resolução: 730 dpi
Formado: MP4
Fonte: Torrenting.com

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sábado, 9 de junho de 2018

REVENGE (2018) Dir. Coralie Fargeat



Revenge (br: Vingança) é um longa francês e também a obra de estréia da diretora Coralie Fargeat. A trama narra a história de Jen, uma riquinha americana que tem um relacionamento secreto com o milionário francês Richard. Ambos voam de helicóptero para casa isolada de Richard que se situa no meio de um grande deserto. Inesperadamente, Stan e Dimitri, amigos de caça do milionário, chegam um dia mais cedo, decepcionando Richard, que esperava manter Jen em segredo. O erotismo e a beleza da jovem atraem os olhares dos amigos inconvenientes. Principalmente Stan, que na primeira oportunidade se aproxima da jovem. A moça acaba sendo violentada. Richard ao ter conhecimento do fato acaba sendo conivente com os amigos de caça. As coisas vão além de seus limites e a moça é abandonada para morrer.

O QUE ESPERAR DA VINGANÇA?

CORALIE FARGEAT
Revenge não é um filme nenhum pouco original no quesito ‘a trama que a obra nos traz’. Ou seja, a proposta da história já foi vista em muitos outros filmes anteriores sobre Vingança Feminina. Desde os mais populares como Atração Fatal (1987) de Adrian Lyne e Thelma e Louise (1991) de Ridley Scott. Como o clássico indiscutível Carrie, A Estranha (1976) do Brian De Palma. Sem contar os queridinhos do Tarantino À Prova de Morte (2005) e Kill Bill, Volume I e II. Mas não podemos deixar de lado a menção honrosa aos seus antecessores:  Hanyo, a Empregada (1960) -Direção: Kim Ki-Young, A Noiva Estava de Preto (1968) -Direção: François Truffaut, As Diabólicas (1955) - Direção: Henri-Georges Clouzot. E a obra que considero a "mãe dos filmes de vingança feminina" como aquele contexto “sangue no zóio” que é o indiscutível “I Spit on Your Grave” (1978) do diretor Meir Zarchi.

Mas o que difere Revenge dos outros filmes? A maioria dos filmes sobre vingança feminina tiveram sempre o olhar masculino sobre esse contexto. Digo a maioria, pois existem muitas diretoras mulheres que estão trilhando a cena mais extrema do cinema, contribuindo com criatividade e novo vigor aos temas e gêneros que parecem saturados. Uma dessas debutantes é justamente Coralie Fargeat.  Seu filme não é apenas mais uma obra vazia que traz meras referências aos filmes sex exploitation e gore. Coralie traz um discurso, mesmo que sútil, porem evidente, sobre a misoginia. Sobre a objetificação feminina e com as mulheres são descartáveis. Esse perspectiva fica mais evidente na seguinte fala do personagem Richard: 
“E você pensou que poderia ganhar? Contra mim? O único momento em que isso foi possível. Foi quando te ofereci para sair sem resistir. Mas você teve que tornar isso uma luta. As mulheres sempre têm que tornar isso uma porra de uma luta.”



Como dito anteriormente. Em quesito de trama o filme não é nada original. O grande diferencial da obra é a narrativa. Mas referente as suas inspirações a diretora jamais negou sua grande influência e homenagem ao clássico  I Spit on Your Grave, 1978 do diretor Meir Zarchi

Mas isso não torna o filme seja ruim. Longe disso, o filme se faz sincero naquilo que promete. É como ouvir AC/DC. Seja o álbum “High Voltage” de 1976 ou “Rock or Bust” de 2015, você sabe o que vai ouvir. É algo muito bom, com energia, mas nada diferente do que você já ouviu. Você sabe o que esperar. Revenge segue a mesma premissa: A clássica história da garota que vai até as últimas consequências para se vingar dos seus malfeitores. Direto, franco e sincero. 



O que torna “Revenge” especial, entre outras produções do estilo, são as escolhas estéticas e como o uso do ambiente e das cores tornam a narrativa mais fluente que os clichês do gênero tem apresentado

A forma como é construída os planos, a linguagem cinematográfica de extrema qualidade e o cuidado incluindo travellings, closes, belos plano-sequenciais tornam a narrativa singular. O take que me deixou mais curioso foi a cena das gotas de sangue que caem sob a formiga no solo árido e arenoso do deserto. A forma como o sangue espesso torna a areia fina em uma armadilha que aprisiona a formiga. Dificultando seus passos, aguçando o extinto de sobrevivência do inseto que se debate em angústia ansiando sobreviver. No entanto, a origem de tais gotas que estão em um plano extremamente fechado, o oposto delas, também narram uma cena de sobrevivência e morte. Com certeza quando você assistir esse trecho irá se lembrar desse trecho do artigo.

 



Mas não se engane. Todas as cenas são brutas e densas, mas no limite da sensibilidade e realidade que ela se propõe. Sem desafiar a física ou a nossa própria inteligência. Prepare-se para muito sangue e fraturas sem censura. Não me refiro coisas trasheiras ou podreira de filmes B. São efeitos visuais convincentes que compõem a narrativa de uma obra feminina que entra para cenário do Novo Cinema Francês Extremo (New French Extremity). Revenge não é um filme fantástico, mas é um bom filme e acima de tudo sincero. 

Particularmente eu esperava uma crítica feminina “mais espartana” sobre o assunto. Mesmo assim Coralie Fargeat se saiu muito bem em seu primeiro filme. Que venham os próximos!

FICHA TECNICA

Gênero: Thriller, Ação
Ano: 2018
Minha Nota: 6,8
Origem: França
Trailer: [Aqui]

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sexta-feira, 8 de junho de 2018

THE PLACE (2017) Dir. Paolo Genovese


O site filmow define o filme da seguinte forma: “Um homem misterioso senta-se à mesa de um restaurante, onde um grupo de pessoas busca o sucesso. Ele sempre fica na mesma mesa do restaurante, pronto para atender os maiores desejos de oito visitantes em troca de tarefas a serem executadas.” Depois que assisti ao filme, julguei a sinopse muito simplista. O filme é muito mais magnífico e interessante do que como a sinopse apresenta. O filme evoca elementos que são a alma da sétima arte: um grande roteiro, atores sensacionais, diálogos interessantes e uma trama envolvente.

THE PLACE E O CINEMA ITALIANO

Apesar do título em inglês o filme é de origem italiana. Mas por que o filme não tem o título em italiano? E isso é muito simples de se explicar. O cinema italiano, assim como alguns de seus cineastas, carregam em sua narrativa fortes referências culturais. Dificultando que alguns filmes tenha um expoente além de suas próprias fronteiras ou festivais específicos. 

Que fique bem claro, referências culturais jamais tornará um filme ruim. No entanto, não é algo que irá agradar a todos os públicos, principalmente aos olhos das distribuidoras. O que é compreensível e ao mesmo tempo uma tolice. Já que a beleza do cinema realmente é essa, trazer-nos várias perspectivas, experiências, emoções, alegrias e reflexões. O cinema, assim como a música, é uma linguagem universal. Mas devido a nossa constante exposição as narrativas hollywoodianas acabamos nos tornando condicionados a um único tipo de “modo de contar histórias”.



Por essa razão grandes filmes europeus ou orientais acabam caindo na terrível máquina da indústria americana de fazer remakes. Já foram desfigurados por essa máquina obras sensacionais como o filme sul coreano “Oldboy (2003)” do diretor Park Chan-Wook que nada se compara ao remake lançado em 2013 ou o filme sueco “Deixe ela entrar” (Låt Den Rätte Komma In) de 2008 do diretor Tomas Alfredson. Ambos são magníficos em seu modo "in natura". Mas a industria sempre vê as coisas de forma diferente. Os diretores acabam embarcando nessa, pois desejam reconhecimento de uma forma ou de outra.

Por essa razão o título em inglês foi uma “jogada” do diretor Paolo Genovese para atingir um grande público. O filme é falado todo em italiano, mas não há referências culturais tão especificas que possam trazer distanciamento da compreensão da obra como um todo. Muito pelo contrário, assim como os personagens e as histórias narradas, trazem a nós conflitos plenamente humanos. E isso praticamente nos transporta para dentro da história.

Podemos dizer Paolo Genovese não é um jovem diretor. Há em sua filmografia o número total de 11 filmes. Sendo as mais relevantes Immaturi (2011), Una famiglia perfetta (2012), Tutta colpa di Freud (2014) e Sei mai stata sulla luna? (2015). Mas foi em 2016 com “Perfect Strangers” (filme italiano, mas título em inglês) que ele ganhou o prêmio de melhor roteiro em um longa-metragem, tendo visibilidade no internacional no Tribeca Film Festival e foi premiado como melhor filme no David di Donatello Awards. É claro não foi o título em inglês que trouxe esse mérito, mas sim a maturidade profissional do diretor. 

O FILME

The Place é um daqueles filmes que provam do que realmente a sétima arte é feita. Roteiro sensacional, grandes atores que te envolvem no contexto. Tudo isso somado a uma direção magnifica e diálogos sensacionais que nos fazem pensar o que compõe a tal “essência humana”. O filme é tão bom que você se envolve na narrativa, esquece que são atores diante de você, esquece que todo o filme se passa no mesmo lugar.  Isso mesmo, “The Place” é o nome do restaurante aonde toda história acontece. No canto há um homem concentrado em seu dever diário: receber as pessoas a qual ele nunca convidou. Misterioso, porém, sem ser soturno ele recebesse a todos que precisem de suas “soluções”. Atento a cada detalhe, seu prazer é conhecer os detalhes das histórias narradas por seus clientes. Detalhes que ele anota com a máxima precisão em um livro já muito escrito a tinta e mãos. Quando o cliente expressa o seu desejo íntimo a ser realizado, o misterioso homem analisa seu livro e lhe dá uma tarefa a ser realizada para que se alcance aquilo que desejou.





As tarefas as serem realizadas para terem seus desejos alcançados são as mais diversas, desde ajudar velinhas a atravessar a rua até violentar uma mulher ou assassinar uma criança. Mas que fique bem claro, todos podem desistir de suas tarefas, desde que desistam dos seus desejos. Como o ego é maior que a consciência a maioria de seus clientes, mesmo ultrajados a malevolência das tarefas a serem realizadas, jamais desistem de seus desejos. E todos os desejos, de uma forma ou outra, são realizados. É nesse aspecto que o filme te pega pela mão e faz um passeio contigo nas diversas nuances da natureza humana. Mesmo não vendo as histórias narradas dos feitos realizados pelos clientes do homem misterioso, inevitavelmente participamos de todas elas, podemos vê-las em detalhes em nossa imaginação com o poder da narrativa. O Plot Twist** não é saber que há conexão entre as histórias, mas é tentar desvendar quem é o sujeito misterioso e qual é o resultado de todas as histórias juntas. E se tudo isso não lhe convenceu, terminamos com esse diálogo:
"Por que você pede coisas tão horríveis?Porque há pessoas dispostas a aceitá-las."

FICHA TÉCNICA

Gênero: Drama, Suspense
Ano: 2017
Minha Nota:9,0
Origem: Itália
Trailer [Aqui]

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Torrent + Legenda em Português (TP.rar)


quinta-feira, 25 de maio de 2017

TOO LATE (2015) Dir. Dennis Hauck


TOO LATE (2015)
Márcio Domenium




Infelizmente meus queridos, não consigo escrever artigos na mesma velocidade e quantidade que gostaria de compartilha-los, se comparado, as descobertas sobre novos diretores e pequenos achados que venho fazendo durante alguns meses de “meditação”. Por essa razão, antes tarde do que nunca, abri um novo espaço aqui no site, intitulado: NOVOS DIRETORES EM CENA. Sujeitos que se destacam pelo seu debut na sétima arte ou simplesmente por ser chama notável que futuramente se tornará um diamante bruto.

NOVOS DIRETORES EM CENA 
#01 - DENNIS HAUCK



Vamos fazer o nosso debut com TOO Late. o interessantíssimo Noir Moderno do diretor Dennis Hauck. Este sujeito já está sendo comparado a Quentin Tarantino devido a alguns fragmentos de sua composição como filmmaker. No entanto sua obra fala mais sobre si do que um mero comparativo. É o que veremos agora.

PLANOS CONTINUOS...

É fato que a direção, um ótimo roteiro e uma história envolvente fazem a diferença para que se tenha um bom filme. Mas existem alguns “artifícios” que tornam a experiência de se assistir um bom filme ainda mais interessantes. São métodos “arriscados”, mas que em mãos hábeis e criativas fazem a diferença para que uma história já conhecida seja contada de uma forma inovadora. Quando digo “arriscado” me refiro ao modo narrativo que quebram o conceito estético da indústria do cinema. Conceito esse concebido na concepção do roteiro que nos entrega a história a partir de etapas pré-concebidas conhecida pelos roteiristas como A jornada do herói. No youtube encontramos vários vídeos legais sobre o que consiste e como desenvolver essa técnica em seu roteiro. O meu vídeo preferido sobre o assunto vem do pessoal Omelete que você pode conferir [aqui]. Além da composição do roteiro, temos a desfragmentação da ordem das cenas e as magnificas cenas em plano contínuo.


Em OldBoy, o original, não o remake, o diretor Sul Coreano Park Chan-wook utilizou sabiamente desse artificio criativo do plano contínuo. Na famosa “Cena da Luta” temos um único take de 2 minutos e 34 segundos que, justamente pela sua perspectiva de um único plano, consegue narrar com maestria o desafio quase sobre-humano do personagem Oh Dae-su. 

O meu exemplo favorito de plano em continuidade sem cortes é de um filme alemão intitulado “Victoria” do diretor Sebastian Schipper. O filme tem um plano sequencial de somente 134 minutos. Que fique claro, sem (motherfucker) cortes meus amigos! O longa narra a história de um assalto a banco a partir da personagem principal, a dita cuja Victoria, interpretada pela atriz Laia Costa. Para que tudo desse certo foram necessários 12 dias de ensaios interruptos. Mas, tanto Oldboy, quando Victoria narram histórias “manjadas da mesa de roteiros” de Hollywood. Olboy a história de um homem em busca de vingança, o segundo um assalto a banco. Quantos filmes da “sessão kickboxer matar até morrer para se vingar sem saber o porquê” nós já não vimos com a mesma premissa?



Igualmente como os filmes citados acima o que faz a diferença em Too Late não é somente a história contada, mas o modo como ela nos é apresentada. Em suma a história é bem clichê: “Um investigador particular que está cansado do mundo em que vive. Mas se encontra aprisionado em um escândalo que envolve clubes de strip-tease, pequenos traficantes de drogas e meninas desaparecida. ” [filmow] 

A sinopse soa com um chute no saco se lembrarmos aqueles clássicos detetives de filmes noir da década de 50 e suas narrativas melodramáticas sobre suas decisões e perspectivas vinda do seu alter-ego. "Too Late” completamente diferente. Sua estruturado gira em torno de um truque impressionante que torna os diálogos e a história interessante, cabendo a nós desvendar o enigma. A história em si se desenvolve em Los Angeles, narradas em cinco segmentos cronologicamente desordenados, cada um consistindo de uma única tomada, executados em um único carretel de 35 mm de comprimento formato Techniscope (aproximadamente 22 minutos).


Ao contrário de qualquer filme de investigação a história tem início no momento em que o investigador recebe a chamada de jovem pedindo ajuda. Em Too Late, é justamente indefinido esse aspecto. Não sabemos se de fato se o investigador ou vítimas estão mortos, se estão, quando isso ocorreu e porquê. Pois todo argumento central é narrado a partir do aspecto emocional dos personagens, e não, como de costume, na investigação criminal. Com o desfilar de histórias nos deparamos com uma série de personagens coloridos que dão origem a algumas de cenas surreais e imprevisíveis. Os diálogos são intensamente saborosos e parte aditiva das pistas que nos levam a montar todo esse quebra-cabeça.  Cujo enredo é sempre ofuscado pelo perfil magnético dos personagens e estilo cativante de uma câmera que dança em meio a bela fotografia, poesia exótica e erotismo debochado.




As mulheres são belíssimas, heroínas de seus corpos em um erotismo debochado com uma pitada de caos. Cristal Reed, Natalie Zea, Sydney Tamiia Poitier, Dichen Lachman pintam esse quadro junto com a desinibida e sexy Vail Bloom. Mas o papel é para John Hawkes que me trouxe a mente uma espécie de “Nick Cave Detetive” [ver], magro e raquítico, mas que traz nas entrelinhas a malícia do mundo caótico em faz o jogo servir as suas regras.  Um sujeito que tem mais vidas que um gato e brinca com a morte como se já a conhecesse.



É difícil não fazer uma ligação mental entre Dennis Hauck e Quentin Tarantino. Ambos utilizam com elegância o ato  de montar e desmontar o tempo cronológico de uma história fazendo com que obra cinematográfica seja um outro filme dentro do mesmo filme. E esse artificio não é novo, nem quando Tarantino fez o seu debut, tão pouco com Hauck. O diretor Alejandro González Iñárritu e o roteirista Guillermo Arriaga utilizaram as mesmas variantes em Babel (2006), 21 Grams (2003) e Amores Perros (2000). Que aliás, Alejandro González Iñárritu é pai de uma obra que levou Leonardo DiCaprio a outro patamar, o premiado The Revenant (2015), O regresso.

Vamos ficar de olho nesse cara, Dennis Hauck!
Ah, quase ia me esquecendo. A trilha sonora é sensacional!

FICHA TÉCNICA

Título Original: Too Late 
Gênero: Drama
Ano: 2015
Minha nota: 7,5
Trailer [Aqui]


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Torrent + Legenda em Português (TL.rar)

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terça-feira, 3 de março de 2015

The ABC's of Death 2 (2014)


Olá leitores do Imemorável!

Para quem acompanha o blog e minhas narrativas sobre o cinema de bordas com certeza se recordará da primeira premissa que fiz sobre o projeto The ABC’s of Death [veja AQUI]. O projeto consiste em reunir curtas, cada qual, abordando uma letra do alfabeto. E claro, todas as letras relacionadas com o tema “Morte”. Nesta coletânea de estórias sobre o fim comum a todos estão reunidos diversos diretores de nacionalidades distintas e diversos conceitos de narrativa. São aproximadamente 26 histórias em diversos formatos e gêneros narrativos. 

A idéia do projeto é bem simples. Cada diretor produz um curta utilizando uma letra de livre escolha. Envia para o projeto. O curta selecionado entrará na antologia. Após ver os curtas que não entraram na primeira antologia, confesso que fiquei decepcionado com as escolhas da comissão julgadora. Em meu ponto de vista muitos curtas superiores ficaram de fora da primeira seleção. Felizmente isso não ocorreu em sua continuação, The ABC’s of Death 2. Saiba as boas razões lendo esse artigo.


AS LIÇÕES DA MORTE, PARTE II


Geralmente as continuações sempre deixam a desejar, mas em The ABC’s of Death 2 há uma excelente seleção de curtas que fazem com que as duas horas filme praticamente voem. Começando já com o primeiro curta “Amateur” do diretor E. L. Katz que narra à história de um assassino iniciante. Katz nos mostra que nem tudo é tão fantástico como em filmes ao estilo de “Missão Impossível”.  O diretor fez a sua estréia no cenário com interessante “Cheap Thrills (2013)”, longa que narra o jogo de ganância entre dois grandes amigos que são manipulados por um rico casal após se conhecerem em um bar.


Cheap Thrills (2013)

O interessante do projeto “The ABC’s of Death” é que não existe critério de gêneros, ou seja, não há só diretores de filmes de terror. Isso fica bem claro no curta “Capital Punishment” do diretor Julian Gilbey. Gilbey  é conhecido por filmes como “Rise of the Footsoldier (Guerra Entre Gangues)” e “Rollin' with the Nines (9mm - O Preço da Vingança)”. Em “Capital Punishment” o diretor nos da uma luz sobre os efeitos colaterais de se fazer justiça com as próprias mãos.


Outro diretor presente é o Sr. Robert Morgan. As histórias góticas e sombrias de Tim Burton tem classificação 6 anos perto das animações soturnas de Sr. Morgan. Para aqueles que acompanham o Imemorável provavelmente irão se recordar do curta “The Cat with Hands” [veja AQUI]. Uma fábula sombria sobre um gato que adquiri, misteriosamente, mãos humanas. Mas através da animação “Bobby Yeah” que Morgan define seu estilo sombrio em stop-motion com narrativas insólitas vindas de uma imaginação grotescamente fantástica. Neste ABC da Morte o diretor nos apresenta os infortúnios de se jogar com o ceifador de vidas no curta “Deloused”.


Bobby Yeah
O sarcasmo também se faz presente com Alejandro Brugués e seu curta “Equilibrium”. Brugués ganhou sua “notoriedade” com o trash clichê “Juan de los Muertos (2012)”. Algo totalmente oposto com o curta que vem asseguir “Falling”. Da dupla de diretores israelitas Aharon Keshales and Navot Papushado. Certamente o nome dos diretores não é algo tão fácil de lembrar, mas eles já são conhecidos pelos filmes “Rabies  (2010)” e “Big Bad Wolves (2013)”. Em “Falling (Cair)” nos deparamos com a história de uma israelense pára-quedista mulher que está presa em uma árvore por seu pára-quedas e o destino faz com que um garoto árabe a encontre. O curta se desenvolve no choque de culturas e ideologias. Quem é a vítima? Eis o drama dessa narrativa. 


No entanto uma das maiores surpresas que tive foi presença de um curta brasileiro. Sim, nada mais, nada menos que um curta do diretor Dennison Ramalho. Para aqueles que desconhecem Dennison faz parte da nova safra de diretores brasileiros que trazem em suas narrativas um pouco do cotidiano e folclore brasileiro. Ao lado de diretores do universo independente como Rodrigo Aragão (Mar negro), Paulo Biscaia Filho (Nervo Craniano Zero), José Mojica Martins (À Meia-noite Levarei Sua Alma) e Kapel Furman (Pólvora Negra). Unido a esses nomes de peso do cenário underground o diretor reescreve uma nova história sobre o cinema de bordas nacional. Provando que o termo “horror” não necessariamente co-existe com produções de péssima qualidade e falta de profissionalismo. E principalmente, por não ser uma narrativa para elite social, permite sem preconceitos explorar os medos e os devaneios da sociedade contemporânea sem perder o peculiaridade do gênero que o horror tende a se expressar.


Encarnação do Demônio
O diretor teve seu “début” na cena independente com o macabro curta “Amor só de mãe (2003)”. O curta explora o culto a certas divindades baixas adoradas por moradores locais em uma aldeia de pescadores. Em 2010 ele retorna a cena com o curta “Ninjas”, narrando os traumas que a violência pode causar [veja AQUI]. Mas foi como roteirista ao lado do diretor José Mojica Martins que seu profissionalismo teve mais visibilidade no longa “Encarnação do Demônio (2008)”. Longa importantíssimo para a história do cinema nacional pois fecha a trilogia que levou mais de 30 anos para ser concluída!


Sua estréia no projeto ABC é simplesmente fantástica, tanto do ponto de vista crítico, quando do ponto de vista estético. Com o curta “Jesus” o diretor apresenta a história um casal de jovens homossexuais que são vitimados pela violência da intolerância social e religiosa. Um dos enamorados e morto e o outro, a mando do próprio pai, é submetido a um exorcismo. Com extrema qualidade de edição, roteiro, maquiagem e produção o curta faz sérias críticas a um fato tão cotidiano, abordando uma narrativa que caminha passo á passo ao horror tipicamente brasileiro.


"JESUS" por Dennison Ramalho
E claro, não poderia faltar à visão surreal, bizarra, cômica, criativa e subversiva do cinema oriental. Hajime Ohata com o seu curto “Ochlocracy” narra a história de uma mulher humana sendo julgada por seus atos de assassinatos aos não-vivos por um júri de zumbis. E Soichi Umezawa com o curta “Youth” narra à imaginação vingativa de uma jovem diante de pais displicentes. 

E por que não torture porn? Talvez não da forma como você imagina. Mas as irmãs gêmeas  canadenses  (sensualmente mortíferas) Jen and Sylvia Soska revelará uma visão feminina ao gênero com o curta que o define “Torture Porn”. Detalhe para a belíssima (digna do título “tentação”) Tristan Risk que também participou de outro filme das diretoras gêmeas, “American Mary (2012)”.  


Continue lendo pois ainda temos entre as grandes exibições um veterano do horror estratégico! O diretor Vincenzo Natali. Vincenzo deixa sua marca com o curta “Utopia”. Um curta inteligente que expõem os desejos mais íntimos de uma sociedade voltada à imagem de consumo. O título de veterano é digno ao diretor justamente por um dos seus maiores clássicos. O filme que considero “pai” da série “Jogos Mortais”. Que filme é esse? Simples “O Cubo ” de 1997. Quem nunca assistiu, anote esse dica!

E claro, não poderia deixar de falar da participação dos diretores Julien Maury e Alexandre Bustillo. Ambos da nova safra de diretores franceses do gênero que gosto de intitular como “Cinema Frances Extremo”. Realmente esses dois profissionais merecem longos comentários sobre seus méritos em desbravar o horror como jamais visto, tanto em estética, quando em roteiro. Algo que é marca registrada dos diretores da cena do “Cinema Frances Extremo”.  Por essa razão convido a lerem a postagem e assistirem “A L'intérieur (A Invasora)”. Grande filme do gênero com a minha psicopata favorita, Béatrice Dalle. [veja AQUI] No ABC da Morte os diretores nos presenteiam com o curta “Xylophone”. História de uma babá que entra em estado hipnótico ao som do xilofone. E quem é a “babysitter” do curta? Olha só Béatrice Dalle! Um pouco mais velha, mais ainda com uma sensualidade e obscuridade digna de seus personagens. 


Béatrice Dalle em “A L'intérieur (A Invasora)”

Quem deseja ver Béatrice Dalle em sua melhor forma, leia o artigo sobre o filme (tradução livre) “Desejo e Obsessão” da diretora Claire Danis. [veja AQUI] Você ficará diante de uma ninfomaníaca como jamais viu.


E claro, não poderia faltar algo realmente horripilante e com umas pitadas de gore. Para última letra do alfabeto e último curto da antologia temos o angustiante “Zygote (Zigoto)” do diretor Chris Nash. Nash em sua filmografia não tem nada que seja significante. Mas lhe garanto o curta “Zygote” vai lhe deixar desconfortável na poltrona. A história é bem simples. O marido por uma razão desconhecida deixa a esposa em plena nevasca para fazer o trabalho de parto sozinha. Ela implora por sua presença, mas ele continua persistente na decisão em deixá-la, prometendo voltar quando tudo acabar. Agora pense comigo. Não podemos adiar o nascimento de um bebê, certo? Errado! E Nash irá nos provar o contrário da forma mais angustiante possível!

FIM DAS LIÇÕES

The ABC’s of Death 2 fez uma ótima seleção, espero que vocês apreciem o filme e comente esse artigo. Disponibilizo a listagem dos títulos dos curtas e seus respectivos diretores, além dos arquivos para download. Os títulos destacados são aqueles que considero imprescindível não deixar de assistir.


LISTA DE CURTAS


(A) is for Amateur (Amador) 
Dirigido por E. L. Katz


(B) is for Badger (Texugo)
Dirigido por Julian Barratt



(C) is for Capital Punishment 
Dirigido por Julian Gilbey



(D) is for Deloused 
Dirigido por Robert Morgan 

(E) is for Equilibrium 
Dirigido por Alejandro Brugués



(F) is for Falling 
Dirigido pores Aharon Keshales and Navot Papushado

(G) is for Grandad 
Dirigido por by Jim Hosking

(H) is for Head Games
Dirigido por Bill Plympton



(I) is for Invincible 
Dirigido por by Erik Matti 



(J) is for Jesus 
Dirigido por  Dennison Ramalho

(K) is for Knell 
Dirigido pores Kristina Buozyte and Bruno Samper

(L) is for Legacy
Dirigido por Lancelot Odawa Imasuen

(M) is for Masticate 
Dirigido por Robert Boocheck

(N) is for Nexus 
Dirigido por Larry Fessenden



(O) is for Ochlocracy 
Dirigido por Hajime Ohata

(P) is for P-P-P-P SCARY! 
Dirigido por Todd Rohal

(Q) is for Questionnaire 
Dirigido por Rodney Ascher

(R) is for Roulette 
Dirigido por Marven Kren*

(S) is for Split 
Dirigido por Juan Martinez Moreno



(T) is for Torture Porn 
Dirigido Jen and Sylvia Soska

(U) is for Utopia 
Dirigido por Vincenzo Natali

(V) is for Vacation 
Dirigido por Jerome Sable**

(W) is for Wish 
Dirigido por Steven Kostanski



(X) is for Xylophone 
Dirigido por Julien Maury and Alexandre Bustillo

(Y) is for Youth 
Dirigido por Soichi Umezawa



(Z) is for Zygote 
Dirigido por Chris Nash


FICHA TÉCNICA

Título Original: ABCs of Death 2 
Gênero: Horror, Comedia, Animação
Ano: 2014
Minha nota: 7,9


DOWNLOAD

Torrent + Legenda em Português (ABC2.zip)

 

AVISO: Se você curtiu ter achado o filme que tanto procura e ainda curtiu ter uma análise bacana sobre o mesmo, lembre-se. Quando baixar o torrent, não o delete de imediato, deixe compartilhando para que outros tenha a mesma satisfação que você. E comente o artigo, seja aqui ou na página no facebook [Link]. A generosidade agradece.