terça-feira, 1 de outubro de 2013

A cara-metade de Harvey (2001) Dir. Peter McDonald



Um curta para quem está a procura da cara-metade
[Curta-metragem]

O que seria a tal cara-metade? Realmente fica difícil fazer qualquer reflexão sobre essa expressão tão surreal diante dos princípios que regem a sociedade contemporânea. Atualmente vivemos por conceitos completamente contraditórios diante da filosofia do “verdadeiro amor” e “virtudes humanas”. Infelizmente a maioria das relações humanas é pautada com os mesmos princípios dos tratados mercantilistas: custo-benefício. Independente da natureza de seus vínculos, amizade ou paixão, sempre fazemos uma leitura quantitativa do outro. Avaliamos as virtudes pautas e perspectivas que visam as conquistas financeiras, títulos e poses. Algo totalmente contraditório a retórica que proclamamos em músicas, filmes e poemas sobre a virtude de tais sentimentos.

Pesando na outro lado da balança surgem  as chamadas exigências do “politicamente correto” que ditam regras de felicidade: seja magro, não beba, não fume, não coma carne, pratique exercícios constantemente, seja jovem, sorria sempre. Aguçando ainda mais a angústia e a sensação de solidão de uma sociedade cada vez mais distante do contato humano. E cada vez mais nos tornamos moldes de parâmetro estético, moral e existencial. Assim como todas as coisas que consumimos. Anulando completamente a singularidade de nossas escolhas.

Harvey, personagem fictício do curta-metragem Australiano, dirigido por Peter McDonald, não está distante desse conceito. O curta narra à história de um homem obcecado pela sua "outra metade", incompleto e infeliz, que vê na vizinha do lado a chance de se ver por inteiro. Mas nem tudo aquilo que acreditamos nos perfazer necessariamente é a aquilo nos falta. A ausência pode ser de si mesmo, de uma auto-estima sobre os conceitos, valores e características que nos compõem. A ausência de um olhar mais apurado de quem somos, o que faremos com o que somos e para onde desejamos ir.

Alguns podem não gostar da forma como o diretor compõem as suas reflexões, transformando a película em uma seqüências de cenas surreais, grotesca, e para os mais sensíveis a tais expressões, desconfortante. Mas é através incomum e estranho que Peter McDonald nos revela o lado mais vil de nossa solidão, de nossa fome voraz pelo outro, de nosso egoísmo e egocentrismo diante dos sentimentos. Afinal cabe a reflexão individual de cada um. Essa é apenas a minha visão. Bom curta a todos!

Harvey (2001)
Direção: Peter McDonald
Origem: Austrália

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